terça-feira, 1 de maio de 2012

Deveria chamar-te claridade

Durante essa noite gelada, enquanto te abraçava, lembrei do dia em que você me imitou tentando dormir: hum, achei uma posição ótima. Cinco segundos depois: droga, agora não está mais. E vira de lado. Hum, ainda não. Mexe mais uma vez. Nossa, essa é perfeita (cotovelo no seu nariz e perna pra fora da cama). Ai, droga, o topinho do meu dedão do pé ta coçando (e coça o dedo na sua perna, pra não ter que sair da posição ótima). Não devia ter mexido o pé, agora não ta mais bom. E tenta outra posição. Me abraça de concha? Hummm, agora está ótimo. E você sempre lá, paciente, impedido de dormir enquanto não pego no sono (ainda porque tenho fobia de dormir por último).
     Você sempre fica acordado para me fazer dormir. E você me faz massagem até eu não falar mais coisa com coisa, aí deita me abraçando de concha, na nossa concha... aquela que sempre foi um tormento para nós dois, que sempre foi boa só nos cinco primeiros minutos, mas para nós é a posição de ninar. Onde o maldito braço que sempre adormece fica encaixado certinho no vão do meu pescoço, onde sua mão pequena termina exatamente em cima do meu peito e eu posso abraçá-la como faço com meu bicho de pelúcia. Aí sempre teve o problema do cabelo. Não é fácil abraçar alguém com tanto cabelo como eu. Mas você faz ele de almofadinha e consegue se aninhar sem puxar nenhum fio. E a minha falta de tamanho, que sempre impediu um encaixe ideal, permite que meus pés terminem exatamente no buraco entre os seus tornozelos. Em cinco segundos eu estou quente e me sentindo segura, pronta para dormir. Porque quando eu durmo com você eu não tenho pesadelos nem frio nas costas. 
     E se por acaso algum pesadelo insistente aparece, você deixa eu deitar no seu peito, abrindo um braço para eu entrar, e depois fechando em volta de mim, me protegendo. E não liga se eu coloco a perna em cima da sua barriga. Diz até que gosta. E você sempre me dá o canto, ou o lugar mais longe da porta, porque sabe que eu prefiro. 
    Como nem tudo é perfeito, ainda assim eu acordo mil vezes durante a noite. E confesso que nunca achei que alguém dormindo fica tão bonito como acho quando olho para você. Seu cabelo loiro é tão bonito... e eu gosto de te agarrar bem forte, mesmo que meus bracinhos quase não alcancem e que seu cabelo faça cócegas no meu nariz. Com você é bom, com você é mágico...
    Sei que você já dormiu com outras mulheres, que todas as pessoas dormem, já dormiram ou dormirão junto com alguém e que para a maior parte da pessoas esse texto pode parecer muito besta. Mas para mim, para a garota das noites conturbadas, para a garota que trava lutas quase diárias contra seus horríveis pesadelos, dormir com você é quase como um milagre. De todos os presentes que você já me deu, a paz de espírito que sua presença me traz é de longe o mais bonito. Como dizia Vinicius de Moraes, "deveria chamar-te claridade, pelo modo sincero, franco e aberto com que encheste de cor meu mundo escuro".

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