sábado, 28 de abril de 2012

Entre risos e cor

"Eu tenho sorte". Em uma festa de aniversário em uma balada muito doida, não é fácil lembrar de muitas conversas. Mas essa frase hoje soa em minha mente como se ainda estivesse sendo pronunciada. Pois é, eu também acho, assim como ouvi ontem de uma das pessoas que enchem meu mundo de cor, que tenho sorte, porque amizades como essas que temos são raras. Pode parecer demagogia ou clichê, mas em um mundo tão frio, tão individualista e acelerado, as amizades estão se diluindo. Como diz a raposinha do Pequeno Príncipe, os homens compram tudo pronto em lojas, mas não existem lojas de amigos, então os homens não têm amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me.
       Meu pai sempre me disse que você pode ter muitos colegas, mas quase nenhum amigo. Acho que, mais uma vez, terei que discordar dele. O tanto de amigos que temos depende de quanto nos doamos. Depende de quanto compreendemos as diferenças e de quanto nos colocamos no lugar do outro. Amizade, talvez, não seja sorte, mas mérito. Não pode ter um amigo quem não chora junto, quem não sente a dor do outro, quem não discute e depois fica mal, querendo fazer as pazes cinco minutos depois, quem não tem a liberdade de poder dizer "eu te amo". 
        Quando penso neles, nos meus amigos que o tanto que têm de malucos têm de coração puro, fico em paz. E eu queria  escrever muito mais, queria escrever um texto para cada um deles. Queria contar sobre o quanto ela sempre me entende, queria contar sobre o quanto me identifico com ele e o acho engraçado, queria contar sobre o quanto o admiro e gosto dos nossos papos-cabeça, queria dizer sobre o quanto me fazem feliz. Mas parece que tudo que sinto aqui dentro está tão bem instalado em mim que não quer sair para o mundo. Talvez porque seja difícil explicar algo que simplesmente se sente, pura e inocentemente. Então vou encerrar minha tentativa frustrada por aqui, com a dúvida sobre "ter sorte ou ter feito por merecer", mas com a certeza de que, definitivamente, eles são como uma caixinha de lápis de cor com 48. Daqueles que quando eu era criança eu pensava: caramba, quanto lápis, quanto cor. Daqueles que são capazes de transformar uma folha vazia em um mundo bonito. E é nesse mundo que eu quero estar. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O dia em que a cerveja acabou

Tinha acabado de sair do trabalho. A primeira reação foi soltar o nó da gravata, que apertava meu pescoço e me fazia suar em bicas. Eu poderia ir pra casa e lavar a louça na pia que desde manhã aguardava ansiosamente pela minha volta, mas cheguei à conclusão de que tomar uma cerveja gelada resolveria melhor meu problema. Escolhi o boteco do quarteirão de trás, aquele bem simples, com toldo vermelho e mesas e cadeiras de metal, daquelas que abrem e fecham, típicas de bar.
      – Camarada, desce uma gelada, por favor.
      – Ixi patrão, vou ficar te devendo, a cerveja acabou. Só tem guaraná.
     Sexta-feira, seis horas da tarde mais calorenta dos últimos tempos... a cerveja acabou e ele me oferece guaraná? Tem gente que não sabe mesmo ganhar dinheiro. Levantei um pouco frustrado e parei naquele outro bar, um pouco mais chique, um pouco menos boteco, mas que pelo menos tinha mesas (de madeira, mas ainda de abrir e fechar) ao ar livre. Já sentindo o geladinho na garganta eu pedi:
      – Opa, quais cervejas você tem?
     – Tem cerveja não, desde ontem tamo sem. Mas a água de coco ta uma maravilha.
     Era Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo e ninguém me avisou? Água de coco ta uma maravilha?Já não se fazem mais garçons como antigamente. Suando cada vez mais e com uma leve irritação, parei na padaria ao lado da praça. Sempre achei que beber no balcão da padaria é um tanto quanto triste, mas minhas opções mais próximas já estavam se esgotando – assim como minha paciência. Um pouco sem-graça, evitando parecer um quarentão deprimido que passa a tarde afogando as mágoas no balcão, eu falei para a atendente:
      – Quanto ta a cerveja?
      Ela, alguns decibéis a mais do que eu pretendia levar a conversa:
      – Não entendi...
      Eu, um pouco mais alto, mas ainda mais baixo que o semi-grito que ela deu:
      – Cerveja... quanto ta?
    – Aaaaah, o senhor quer uma cerveja? Acredita que acabou bem nesse calor? A gente faz suco, quer?
       Eu estava a apenas um balcão de distância, ela precisava mesmo falar tão alto?
    Já perdendo as esperanças de encontrar uma simples garrafa de cerveja e abrindo alguns botões da camisa para tentar suar um pouco menos e ter mais forças para continuar minha missão, avistei um vendedor ambulante carregando seu isopor.
      – Hey, você, espera aí.
     Com uma leve corrida, que por sinal só me deu mais sede e me lembrou do quanto estou fora de forma, alcancei o homem.
      – Nossa, brother, ainda bem que te achei. Acredita que to faz quase meia hora procurando uma simples cervejinha e em todos os lug...
    – E em todos os lugares acabou, né? To sabendo, vendi a minha última latinha faz dez minutos. As vendas foram um sucesso hoje. Também, com esse calor, né? Não ta com calor com essa roupa social não?
      Óbvio que eu estava com calor. Aliás, acho que era visível que eu estava com calor. Ou ele achou que a camisa molhada era parte do concurso “gato molhado”?
     Já sem a gravata, camisa aberta e considerando seriamente tirar os sapatos, minha última esperança era o mercadinho na frente de casa.
      – Nossa, seu Jorge, ta descalço? Foi assaltado? Menino, essas ruas estão um perigo e...
      – Não, não fui assaltado. Só queria uma cerveja. Vai dizer que não tem também?
      – Vou dizer mesmo. Acabou cedinho hoje...
   Já sem paciência, sem gravata, sem sapato, pingando suor e indignado, eu me dei por vencido e atravessei a rua, rumo a minha casa. Talvez fosse praga da louça.
   Quando estava fechando a porta, ouvi a dona Jurema, a do mercadinho, gritando: “Seu      Jorge, seu Jorge... peraí. O caminhão de cerveja ta vindo ali na esquina”. Reunindo toda a calma do mundo, vi a entregadora estacionando e desembarcando os engradados que semanalmente vendia no mercadinho. Voltei e aguardei pacientemente no caixa.
       – Quero apenas uma lata, dona Jurema.
       – Uma só? Mas parecia que o senhor queria tanto uma cerveja.
       – Uma já vai resolver meu problema.
    Peguei, paguei, fui até o meio da rua e POW! Joguei aquela porcaria de lata no chão, enquanto a pisoteava (lembrando, descalço) e a xingava com todos os palavrões que aprendi desde a terceira série do primário. Quando achei que já era suficiente recolhi o que sobrou da lata e entrei em casa, muito mais tranquilo, enquanto ouvia a dona Jurema comentar:
       – Que maluco! Deve ter enchido a cara... viu como ele tava todo com cara de acabado? Homem quando bebe demais fica assim mesmo. Se tivesse só bebido um guaraná... 


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Descontos no Dia Mundial do Livro

Desde 1996 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) oficializou o dia 23 de abril como Dia Mundial do Livro, com a intenção de incentivar a leitura. Esse ano, para celebrar a data, algumas lojas estão com desconto em livros. Confira:

Walmart (http://www.walmart.com.br): Na compra de 2 livros, ganhe 10% de desconto. Levando  3 livros o desconto é de 15% e se adquirir 4 livros ganha 20% de desconto. É possível também encontrar outras obras a preços bastante acessíveis, como A Invenção de Hugo Cabret, livro do filme que ganhou cinco prêmios no Oscar 2012, que passou de R$ 42,00 para R$ 29,50.

Livraria Saraiva (http://www.livrariasaraiva.com.br): Todos os livros do site estão com desconto e acima de R$ 59,00 não será cobrada taxa de frete.

Clube de Autores (http://www.clubedeautores.com.br): De hoje (23) até 29 de abril, os livros estarão com desconto de até 25%.

FNAC (http://www.fnac.com.br): Lançamentos e pré-venda estão com 20% de desconto.

Cosac Naify (http://editora.cosacnaify.com.br): Livros da loja virtual com 50% de desconto.

Cabe a você ser quem é

Se tem um área que me encantou nesses últimos tempo é a psicanálise. Acredito muito em inconsciente e acredito que certos eventos traumatizam e acabam, de certa forma, moldando nosso comportamento. Mas se tem uma coisa que mesmo assim não entra na minha cabeça é ouvir alguém dizer: "ah, eu era boazinha, mas sempre só me ferrei com homens, então agora sou piriguete mesmo". Não tenho nada contra a piriguetagem e acho, inclusive, que faz bem ter fases de curtição durante a vida. Quer pegar o amigo do ex-namorado? Arrasa lá. Quer beijar cinco por noite? Se joga. Quer transar no primeiro encontro e nem trocar telefones? Vai fundo. Mas não diga que não queria ser assim, que é apenas porque "o mundo te obriga". Acho que não precisamos buscar sempre uma explicação, dar satisfações... 
        Sou muito mais a favor de ser o que bem entender, sem ter a obrigação de achar que será do mesmo jeito para sempre. Acho muito justo ter uma fase piriguete, porque a solteirice está boa demais e a safra está rendendo, e depois achar que "ah, agora já não ta mais legal", e mudar de comportamento. Ou vice-versa. E homem também faz muito isso. Já ouvi muitos caras dizerem que mulher não gosta de homem bonzinho, então serão calhordas. Se mulher gostar de homem capado, então...
        Prefere pensar que amor não existe, que homem é tudo igual, que casamentos são fadados ao fracasso, que sexo casual é melhor e que é mais feliz quem pega mas não se apega? Tem todo o direito, mas assuma suas decisões como suas. As pessoas estão e sempre estarão ao nosso redor. Cabe a nós decidirmos como elas influenciarão (ou não) no que seremos. Mesmo na minissaia mais curta há espaço para levarmos a responsabilidade pelas nossas decisões... dá para deixar com você, não precisa guardar no bolso do ex-namorado.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Amante casual? Bom mesmo é ter um todo dia

Cá entre nós: quem nunca se imaginou vivendo uma "paixão perigosa", daquelas meio proibidas, meio avassaladoras, que descabela e te deixa levemente sem chão? Mas aí a gente pensa: "putz, mas eu tenho namorado... e não teria coragem de trair". E quem disse que precisa? Apesar de as novelas da Globo passarem a impressão de que ter um amante é tendência e que os Ricardões levam qualquer pessoa à loucura, eu ainda acho que bom mesmo não é ter um amante casual, mas sim um fixo. Bom mesmo é quando o namorado e o amante são uma pessoa só.
        Mais bacana que fugir na hora do almoço, morrendo de medo de ser descoberta, é simplesmente encurtar o almoço, pra poder aproveitar melhor a "sobremesa". E em vez de se preocupar em não ser vista na saída, sua única preocupação pode ser não bagunçar muito o cabelo, para chegar bem no trabalho. Mais legal que ter adrenalina com a fantasia de que pode ser descoberta, é poder confiar suas fantasias a alguém, sem medo de ser julgada. Melhor que ter um cara que te pega escondido, é ter o que ta dá as mãos, apaixonado, mas também te pega na parede. Melhor que dar um jeito de despistar o namorado, deixando o coitado com cara de bobo na balada para poder se pegar com outro no banheiro, é poder arrastar o namorado pro banheiro, se sentindo a maior infratora de leis. Mais bacana que o "sabor do novo", é não deixar o namoro cair na rotina e ainda se surpreender com o quanto um "simples" (imagina se fosse complexo) amasso pode te deixar sem ar. Melhor que perder o respeito, é perder o juízo, e entre sussurros apaixonados e confissões carnais, descobrir que seu namorado é, além de seu melhor amigo, seu mais sexy amante.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Dia do Índio

No meu sangue tem muito de terra, de pé no chão, de banho de rio, de pesca e de caça. Meu sangue tem muito de índio, mesmo que eu nunca tenha vivido em oca. Descendente de índio, negro e branco. Cabocla, mestiça, criola. Em meus olhos puxados como os dos meus ancestrais indígenas, levo a única marca visível da minha herança. Em minha alma levo o amor pelo simples, o respeito pela Natureza, o medo do desconhecido, a crença em espíritos, a amizade com os bichos, a admiração pelas crianças e a aceitação do corpo e da nudez. E nesse Dia do Índio, que infelizmente só é lembrado no Ensino Fundamental I, logo que entramos na escola, e visto como um dia bonitinho, eu sinto a dor da submissão e o desespero das tribos que foram humilhadas, exploradas, violentadas e por fim dizimadas. E no meu coração brasileiro bate a esperança de que o tão adorado progresso não termine de atropelar o que, por mais distante que pareça, é também o que eu sou.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Menina do mato

É que eu sou do mato, sabe, seu moço? Toda essa cara de moça da cidade é só uma armadura contra o frio que faz nesse lugar. É só para disfarçar, porque na verdade eu morro é de verrrrrgonha. Lugar cheio não é comigo, sabe, seu moço? E esse céu noturno meio rosado? Não dá nem pra apontar o dedo pras três marias e depois ficar morrendo de medo de aparecer verruga. O bom é que por aqui não deve ter lobisomi, né? Porque quase nem dá pra ver Lua cheia. Se vê é rapidinho, e logo uma nuvem de poluição esconde ela. Aqui tem muito prédio alto, mas eu gosto mesmo é de subir em árvore, sabe, seu moço? É, é disso que gosto: árvore alta e muro baixo. Ouvi dizer que aqui é a cidade que nunca dorme. Deve ser porque se dormir alguém leva sua carteira. E já que vamos ficar acordados a noite toda, é cheio de coisa pra fazer, mas ninguém tem tempo não, seu moço. Aqui todo mundo trabalha muito, pra ter dinheiro pra descansar. Mas quem descansa, seu moço? Depois de tanta correria, dormir ouvindo o barulho do tráfego na rodovia já ta bom. Descansar na rede, aqui, só se for na rede social. Aqui a gente não sai na rua pra papear com o vizinho não, porque a gente nem sabe o nome dele, mas não tem problema não, seu moço... a gente faz amigos no Facebook. Lá é quase igual a pracinha da igreja, sabe, seu moço?  Só falta a sorveteria. Toda noite todo mundo se enfeita o mais bonito que pode e vai. Também não tem nada pra fazer, que nem na pracinha, mas a gente vai mesmo assim. Aqui a gente come tudo junto quando dá, porque como já falei, aqui a gente trabalha muito, seu moço. Não dá tempo de sentar a família toda na mesa pra comer. Se ficar pra tomar café com a mãe você pode aproveitar e ficar pra almoçar com o cobrador dentro do ônibus, porque vai demorar pra sair de lá. É muito trânsito, seu moço. Aqui não tem barulho de cigarra que faz xixi quando você passa embaixo da árvore (deve ser porque não tem árvore) e em alguns lugares ainda dá pra ouvir passarinho gritando: beeeeem-teeee-viiiii... mas eu preciso é voltar logo pra vida mansa, seu moço, porque eu quero é que ele me veja bem longe daqui.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Tão sem título quanto eu

Às vezes acho que queria me perder de você e de mim, só para que depois pudéssemos me encontrar e, então, eu fosse capaz de saber quem sou, só para poder ficar... ou fugir.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

És parte ainda do que me faz forte

Hoje eu lembrei bastante de você. É, eu nunca lembro de você. Eu até queria, mas não consigo. De tanto pensar em você eu te esqueci... e de tanto te esquecer eu queria lembrar. E hoje você passou muitos momentos por mim, talvez como aquela borboleta chilena passou por ela. No meu cérebro eu esqueço passados, apago cenas e me recordo de borrões. Eu quem quis isso, não foi? Mas hoje eu me lembrei do seu cafuné na orelha, o que me fez pensar que sempre achei seus dedos engraçados, principalmente os dos pés. E lembrei que nós ríamos, colocando nossos pés lado a lado e dizendo: "oi, mamãe tartaruga". Eu passei em frente a uma pastelaria e lembrei que sempre comíamos pastel com caldo de cana. Por falar em comida, lembrei que você sempre me dava um pedaço da massa crua de lasanha, e então eu fazia uma sopinha para minhas bonecas. Quando eu cresci a gente ficava conversando pela porta da cozinha: eu sentada no muro, vendo a Lua cheia nascer (ela sempre aparecia muito bonita em Santa Isabel, né?) e você cozinhando. Espero ter dito alguma vez que amava sua comida. Pode até ser muita gordice, mas hoje pensei outra vez em comida, quando lembrei do nosso caderno de receitas. Completamos ele com louvor, hein? E eu lembro com nostalgia das inúmeras discussões para saber quem ficaria com ele quando eu saísse de casa. Eu daria o mundo para poder te dar ele agora. 
            Esses dias lembrei daquela tarde chuvosa, quando você pensou que seu tênis explodiu, e ficou com tanta vergonha que não tinha coragem de ver. Até hoje eu rio disso. Eu lembro que você me ligava todas as noites e que sempre se confundia para falar "problema", mas você nunca assumia isso. Eu lembro que eu queria ser inteligente como você. Eu lembro que você tinha uma verruga que cutucava todo dia, até aquilo virar um problema (que coisa estranha de lembrar, não? Onde era mesmo? Na testa ou na bochecha?). Eu lembro de quando pegamos a Lara na rua e do quanto eu gostava de deitar em cima do seu peito, para ouvir seu coração bater. Eu lembro de uma noite de tempestade, quando eu dormi com você, e você me apertou bem forte, até meu medo passar. Eu lembro de quando você me mandava amarrar o pano de prato no pescoço, para comer macarrão. Até hoje acho impossível não derrubar molho na roupa, sabia? Queria te contar tanta coisa... mas prefiro pensar que você sabe. Mas se eu puder te contar apenas uma, queria dizer que nossa parceria era incrível e que te carrego em meu coração, mais presente do que aquele que poderia ser presente. "És parte ainda do que me faz forte (pra ser honesto só um pouquinho infeliz)", como diz uma música do Renato Russo, naquele cd que foi o primeiro cd que você me deu.

Barra de chocolate ou ovo de Páscoa?

Esse ano surgiu uma nova campanha "anticapitalista": se uma barra de chocolate de 200g custa sei lá, R$ 5,00, por que pagar R$ 30,00 em um ovo de Páscoa com o mesmo peso? Claro que a moda pegou (pelo menos virtualmente), ainda porque, como diz meu chefe, em tempos de internet as pessoas se comportam como ovelhas (perdoem o trocadilho com o nome do blog): quando uma bali alarmada, todas as outras começam a balir assustadas, mesmo sem saber porquê (isso me lembra as ovelhas da Revolução dos Bichos, do Orwell, aliás). Apesar de esse ser um argumento claro e sem muita contestação, eu não aderi. Primeiro porque não sou anticapitalista e segundo porque não acho que o que importa é quantas gramas vem de chocolate e quanto eu paguei por cada grama. Definitivamente, apesar de não ser anticapitalista, não tenho essa relação de apego com meu dinheiro. Sou muito mais apegada aos sorrisos infantis que são dados quando um ovo de Páscoa surpresa é dado. Não acredito que veria esses sorrisos com uma barra de chocolate.
       Mas, falando primeiro do capitalismo e do dinheiro, não entendo por que as pessoas se incomodam em pagar em um ovo o mesmo valor de uma barra, mas não ligam de pagar cem reais por um All Star, sendo que um genérico poderia ser adquirido por trinta. Não dá nem para falar que é pela qualidade, porque All Star (que eu adoro, por sinal) molha na primeira pocinha d'água e abre um buraco gigante na sola em poucos meses de uso. A mesma coisa vale para outros tipos de sapatos, roupas, bolsas e celulares. Por que vou comprar um carro de cem mil reais se posso dirigir um por vinte mil? Acho que nem sempre o peso de compra pode ser "quanto foi gasto na produção". Falar mal do capitalismo é uma constante, mas deixar de ser capitalista não. Em caso de revolta extrema, há passagens aéreas para a China ou Cuba, mas acho que ninguém está muito interessado nessa proposta.
      Voltando aos chocolates, eu não teria ficado tão encantada se meu chefe tivesse me aparecido com uma barra de chocolate em vez de um ovo de Páscoa surpresa. Toda minha insegurança sobre comprar uma barra de chocolate ou um ovo de Páscoa foram pelo ralo quando os olhinhos da minha vó brilharam ao receber um ovo todo enfeitado e ela me agarrou pelo pescoço e me deu uma bitoca estalada na bochecha, dizendo: "aaah, não precisaaaava. Que bonito, nem tenho coragem de abrir". Assim como foram por terra quando minha irmã, que está com o pé enfaixado, veio pulando em um pé só, toda emocionada com o presente, achando uma fofura. Uma barra surpresa em cima do travesseiro não deixaria meu namorado com aquela cara de bobo apaixonado.
       Eu concordo que é um absurdo super faturarem tanto a Páscoa e os chocolates, mas existem certas coisas que dinheiro não compra. E se comprasse, eu deixaria de comprar All Star, roupas e celulares e daria tudo que eu tenho pela certeza da eternidade dos sorrisos que recebi nessa pré-Páscoa...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Espere-me às cinco

Acabei de ver "Sempre ao seu lado", um filme mega triste (quem ainda for ver não leia). É assim: o cara acha um filhote de cachorro, um akita, na estação do trem e acaba ficando com ele. Eles viram puta amigos e todos os dias o cachorro acompanha o cara até a estação de trem, quando ele vai trabalhar, e o espera, às cinco da tarde, na estação, quando ele chega. Um dia o cara morre... e o cachorro continua esperando por ele... por NOVE anos,TODAS AS TARDES, no MESMO lugar. PS: essa história aconteceu de verdade! Ta, nem preciso dizer que meus olhos estão até inchados de tanto chorar, né? E também nem preciso dizer que isso me faz pensar na vida, né? Fiquei lembrando de todos os cães que já tive: do Pit, da Abinha... e lembrei que foi com ela, a Abinha, minha primeira melhor amiga, minha vira-lata laranja e velhinha, que aprendi o que é lealdade. E desde que nos conhecemos nunca nos abandonamos. Em todas as doenças, alegrias, choros, mudanças... estávamos juntas, abraçadas, no colo, rolando, ou apenas olhando uma para a outra. E eu podia ver que aqueles olhinhos diziam: conte comigo. Estarei sempre aqui! Ela já morreu, e quase que morri junto, de tanto chorar, mas nem tanto por ter perdido minha amiga, mas porque eu não estive ao lado dela quando ela precisou (ela morreu no parto e eu estava viajando). Até hoje isso me corrói, mas aprendi muito. Aprendi o significado de uma amizade, de ser leal. Não, eu não te peço fidelidade, nem presença constante, nem faixas na porta de casa dizendo que me ama: eu peço olhares de compreensão, uma mão na necessidade, aquele abraço quando o mundo desaba. Já repararam que mesmo quando você bate no seu cão (não façam isso), xinga o pobrezinho e o coloca para dormir no frio, ele fica triste, amuadinho, mas quando você volta arrependido, querendo fazer as pazes, recebe uma lambida e um rabinho abanando? Lealdade. Às vezes as pessoas me acham boba por isso, mas me orgulho de ser leal. Se um dia eu te disser que nunca vou te abandonar, que você pode sempre contar comigo, acredite! Não importa o que aconteça, eu serei leal. E é só isso que eu espero das pessoas, que elas sejam como os cães. Alguns são arteiros, outros quietos, uns mordem, outros lambem, cada um tem uma personalidade, um jeito, defeitos e qualidades, mas não importa, eles são os maiores donos da maior virtude do mundo. Enfim, não me dê presentes, nem grite que me ama, mas espere-me às cinco!

Mais um texto retirado do finado Pensamentos de Ovelha, que pouco a pouco dá as caras por aqui.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sorrir ainda compensa

Estava chegando no ponto de ônibus quando vi o ônibus que eu preciso parado, já quase fechando a porta. Como ele demora muito para passar, resolvi dar uma corridinha enquanto acenava e pulava como uma maluca para o motorista não sair. Após fechar e abrir a porta em um momento de indecisão, ele resolveu esperar. Quando cheguei, o motorista e eu elaborávamos uma expressão, simultaneamente. Ele estava fechando a cara em sinal de reprovação e impaciência. Eu estava abrindo um sorriso (não porque sou muito malandrinha, mas porque, além de não ser muito difícil me fazer sorrir, o motorista realmente foi gentil), seguido de um "Obrigada". E, para minha surpresa, o rosto bravo do motorista se transformou em uma mescla de surpresa e amizade e ele me retribuiu com um meio sorriso infantil, como aqueles que costumávamos dar quando uma criança desconhecida ficava nos cercando e querendo fazer amizade. Então eu passei na catraca com a certeza de que mesmo em meio ao caos e à frieza de São Paulo, o sorriso ainda não perdeu seu incrível poder de abrir caminhos e derreter corações.