quinta-feira, 5 de abril de 2012

És parte ainda do que me faz forte

Hoje eu lembrei bastante de você. É, eu nunca lembro de você. Eu até queria, mas não consigo. De tanto pensar em você eu te esqueci... e de tanto te esquecer eu queria lembrar. E hoje você passou muitos momentos por mim, talvez como aquela borboleta chilena passou por ela. No meu cérebro eu esqueço passados, apago cenas e me recordo de borrões. Eu quem quis isso, não foi? Mas hoje eu me lembrei do seu cafuné na orelha, o que me fez pensar que sempre achei seus dedos engraçados, principalmente os dos pés. E lembrei que nós ríamos, colocando nossos pés lado a lado e dizendo: "oi, mamãe tartaruga". Eu passei em frente a uma pastelaria e lembrei que sempre comíamos pastel com caldo de cana. Por falar em comida, lembrei que você sempre me dava um pedaço da massa crua de lasanha, e então eu fazia uma sopinha para minhas bonecas. Quando eu cresci a gente ficava conversando pela porta da cozinha: eu sentada no muro, vendo a Lua cheia nascer (ela sempre aparecia muito bonita em Santa Isabel, né?) e você cozinhando. Espero ter dito alguma vez que amava sua comida. Pode até ser muita gordice, mas hoje pensei outra vez em comida, quando lembrei do nosso caderno de receitas. Completamos ele com louvor, hein? E eu lembro com nostalgia das inúmeras discussões para saber quem ficaria com ele quando eu saísse de casa. Eu daria o mundo para poder te dar ele agora. 
            Esses dias lembrei daquela tarde chuvosa, quando você pensou que seu tênis explodiu, e ficou com tanta vergonha que não tinha coragem de ver. Até hoje eu rio disso. Eu lembro que você me ligava todas as noites e que sempre se confundia para falar "problema", mas você nunca assumia isso. Eu lembro que eu queria ser inteligente como você. Eu lembro que você tinha uma verruga que cutucava todo dia, até aquilo virar um problema (que coisa estranha de lembrar, não? Onde era mesmo? Na testa ou na bochecha?). Eu lembro de quando pegamos a Lara na rua e do quanto eu gostava de deitar em cima do seu peito, para ouvir seu coração bater. Eu lembro de uma noite de tempestade, quando eu dormi com você, e você me apertou bem forte, até meu medo passar. Eu lembro de quando você me mandava amarrar o pano de prato no pescoço, para comer macarrão. Até hoje acho impossível não derrubar molho na roupa, sabia? Queria te contar tanta coisa... mas prefiro pensar que você sabe. Mas se eu puder te contar apenas uma, queria dizer que nossa parceria era incrível e que te carrego em meu coração, mais presente do que aquele que poderia ser presente. "És parte ainda do que me faz forte (pra ser honesto só um pouquinho infeliz)", como diz uma música do Renato Russo, naquele cd que foi o primeiro cd que você me deu.

Um comentário:

  1. Nem testa nem bochecha, era quase chegando no queixo, do lado direito.

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