sábado, 31 de março de 2012

Usando computador na Hora do Planeta

Aquecedor, máquina de lavar louça, secadora, chuveiro quente, micro-ondas, geladeira, computador  e fogão elétrico. Desmatamento sem fim para que a agricultura e a pecuária consigam sustentar os milhões de filhos que os humanos decidem ter o tempo todo, apenas para ter um bebê que "não é a cara da mamãe?", canalizam rios para caber mais carro nas marginais, águas contaminadas pelo esgoto humano e pelos resíduos de indústria que existem para satisfazer o desejo de consumo. Chuva ácida, rodeios para divertirem depois de uma semana estressante, derretimento das calotas polares, espécies extintas, desequilíbrio ecológico. Caos, miséria, desigualdade e destruição. E vamos fazer Hora do Planeta? Vamos ficar off no Facebook para ninguém saber que fomos antiecológicos. Vamos dormir por uma hora, acordar e voltar para nosso mundo moderno. Eu não vou apagar a luz porque, além de não conseguir escrever no escuro, não é assim que vou provar que adoraria salvar o planeta. No máximo conseguiria provar para as pessoas que o meu personagem virtual é muito engajado. Mas não faz diferença o que os personagens virtuais pensam do mundo real.

A adulta da Nova

Quando eu era mais nova eu achava que com 23 anos eu estaria formada, seria bem-sucedida, moraria sozinha, teria um carro, um emprego foda, um namorado tão bem-sucedido quanto eu, reuniões adultas com amigos e uma cara de mulher da revista Nova. Eu me formei, ralo todo mês para continuar estudando e mantendo minhas contas, moro com minha vó enquanto faço planos de morar com minha irmã e batalharmos juntas pelo nosso cantinho com cerveja na varanda e jantares fraternos, não tenho nem carta de motorista, trabalho no emprego dos meus sonhos, descobri que a biologia é incrível, mas que o amor da minha vida é o jornalismo e as escritas em geral, sou barrada no caixa do supermercado porque minha cara de quinze anos me obriga a apresentar RG para comprar bebidas alcoólicas, tenho os amigos mais bobos e sinceros que eu poderia ter e descobri que o amor da minha vida tem apenas 21 anos e ainda faz faculdade e estágio. E nada poderia me fazer mais feliz do que as conversas no café-da-manhã com minha irmã e as nossas bobeiras pela casa. Nenhum happy hour formal me deixaria mais satisfeita do que os botecos e as viagens malucas com meus amigos sem frescura que sentam na calçada e riem de tudo. Amor engravatado e adulto algum me faria mais feliz do que dividir um almoço num barzinho de bairro e assistir meu menino tocando violão enquanto escrevo, sentados no sofá. Acho que realmente não consegui ser a adulta que sonhei ser.. eu consegui ser muito melhor.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Entre sacrifício e eutanásia

Meu cão vai tirar férias. É, pois é, ele vai passar um mês e meio em Florianópolis, curtindo a tranquilidade de uma casa com quintal e a alegria de não ter que ficar separado da Vovó, o amor da vida dele. Como é uma viagem de ônibus, fui pesquisar a documentação necessária e aproveitei para fuçar o site da clínica veterinária do Floquinho, que tem bastante coisa legal. Uma delas é a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que me fez refletir um pouco:
              Alguns artigos se referem ao sacrifício de animais. Independente do motivo da morte, ela deve ser feita de maneira que não cause dor, ansiedade ou angústia. O primeiro pensamento foi: qual forma de morrer eu acharia tranquila e não angustiante? É, acho que nenhuma. Depois pensei no quanto alguns animais como os cães e os gatos são sensitivos. Será mesmo que eles não sofrem em procedimentos considerados "legais"? Será que dar uma anestesia e depois sacrificar é "a forma indolor"? O quanto será que dói no coração de um animal sentir que seu dono, seu grande amigo e amor está levando-o para a morte? Será que eles se sentem traídos? Realmente não sei. A única certeza que tenho é que é muita prepotência acharmos que somos capazes de dizer o que se passa naquela cabecinha.
             Mas a minha maior reflexão foi comparando sacrifício e eutanásia. Por que podemos decidir em que momento um animal deve morrer, mas não somos autorizados a escolher nossa hora? Não acho que seja certo optar por alguém, mas considero justo desligar os aparelhos de uma pessoa que não aguenta mais sofrer e pede diariamente para poder descansar em paz. Quem melhor do que eu para saber o significado da minha vida e da minha morte? Se a pessoa não estivesse internada e quisesse morrer, ela teria muitas opções. Mas se ela está presa a uma cama, ela precisa de ajuda.
            Realmente deve ser muito difícil para uma mãe desligar os aparelhos de um filho, por exemplo, mas penso que não podemos ser egoístas. Não podemos passar nosso conforto e medos por cima do sofrimento alheio. Voltando aos animais, eles sentem quando precisam morrer...e assim fazem. Os elefantes, tão sábios e serenos, se afastam da manada e vão para o cemitérios dos elefantes, prontos para encerrar o ciclo. Quando o periquito macho que eu tinha na infância morreu, a fêmea parou de se alimentar até morrer. Já os cães acham um canto bem escondido da casa para morrer com conforto. Nunca vi um animal espernear para não morrer. Apenas para não ser morto. Pode ser muita ingenuidade da minha parte, mas realmente não vejo motivos para darmos chilique antes de morrer, para matarmos animais e para impedirmos a "autoeutanásia". Assim como não vejo diferença entre humanos e animais. Exceto pelo fato de que eles são bons.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Matar Deus é tendência

Nunca conheci alguém que gostasse de ser acordado por um grupo de religiosos tocando sua campainha e tentando converter o mundo. Quando isso acontece as pessoas sempre têm uma história mirabolante de fuga: panela no fogo, bebê pequeno na banheira, cachorro engasgado... Eu inventaria que estava alimentando minha planta carnívora, porque realmente é muita falta de bom senso bater na porta de uma pessoa para tentar convencê-la a ser como você. Assim como, em minha humilde opinião, é muita prepotência e falta de educação postar o tempo todo no Facebook que Deus não existe, que religiosos como padres e bispos são todos falsos e mercenários ou que comer carne é ser um monstro sem coração.
           Se seu amigo todo dia publicar uma fotinho de Deus, anjos e religiosidade, provavelmente acharemos ele um bobão. Mas falar que Ele (desculpem, anos de culpa cristã me obrigam a apertar o caps) não existe é parecer muito descolado. Imaginem então se alguém escreve que plantas são amigas, não comida. Ou pior: que animais existem apenas para nos satisfazer. Acho que essa pessoa seria banida para sempre do fantástico e democrático (oi?) mundo virtual. Mas postar diariamente vídeos de vantagens de ser vegetariano é ser muito do bem, então pode.
            Que fique bem claro que sou vegetariana e que minha postura religiosa não vem ao caso. Mas SOU, ou seja EU. VOCÊ pode SER o que bem entender. Aliás, acho muito melhor que seja assim. Não é tarefa fácil ser eu... imagina se todos fossem assim? O que sou contra é essa mania de sistematização. Quando os portugueses chegaram ao Brasil eles também achavam que não ser católico era um absurdo e que deveriam forçar convencer todos os índios e depois os negros a seguirem o caminho da luz. Todas as noites minha vó me manda dormir com Deus e eu tenho certeza que essa é a maior paz que existe para nós. Para ela, porque acredita que assim estarei segura; para mim, porque sinto amor transbordar em cada uma daquelas palavras de proteção. E o amor me dá forças.
             Enfim, cada um é feliz com o que tem e com o que pode. E enquanto como um sanduíche de rúcula, minha irmã um de hambúrguer e minha vó põe café para o santo que fica na janela, todos respeitam a beleza de ser quem se é. Simples assim.

terça-feira, 27 de março de 2012

Liberte-se

Até onde estamos de fato livres? Quanto nos prendemos para termos a sensação de liberdade? Por que esperamos três dias para ligar? Oras, para parecer que não ficou desesperada e pensando no cara! Por que receber uma mensagem e demorar três horas para responder? Para parecer que estava muito ocupada! Por que pensar, pensar e pensar? Por que não podemos simplesmente sentir? Oras, porque assim é o mundo. Por que você não pode simplesmente ser você mesmo, viver coisas incríveis e ter conversas sensacionais, sem se prender a rótulos ou convenções? Isso necessariamente tem que significar que essas pessoas vão começar a namorar, a se prender, a se sufocar? Nããão, isso significa apenas que elas são pessoas livres, que percebem que a vida acontece agora, nesses três dias que você espera para ligar. "Hoje eu estou sentindo uma coisa muito forte por você, e eu preciso que você saiba disso, porque amanhã posso não sentir mais, ou não estarmos mais aqui." Essa frase foi dita faz um tempo por um peguete de um amiga, e arrasou muito, porque é muito real.
          Enfim, o que estou tentando dizer é: seja livre. Não a pessoa livre que o mundo espera ver, daquelas que não ligam para ninguém, mas sim destemido... deixe-se sentir. Desde criança eu tenho uma atração imensa por alturas. Pular do trampolim mais alto e da ponte alta na represa. Nada se compara à sensaçao que antecede. O medo, junto com a necessidade de se jogar. E sempre dá aquele frio bom na barriga, durante a queda, e a sensação de estar completamente livre. Livre dos meus medos e dúvidas. Vamos pular, vamos nos entregar... apenas caindo, caindo, caindo...

Texto originalmente postado no antigo Pensamento de Ovelha (que Deus o tenha).

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sem roupa pode?


Eu adoro corpos. Fico encantada com trabalhos de nu artístico e adoro observar as incríveis diferenças entre as pessoas, principalmente daquelas que são quadros ambulantes, com diferentes tatuagens. Mas mesmo no nosso mundo pseudo moderninho, boa parte das pessoas ainda fica toda constrangidinha quando vê alguém sem roupa. Ou fica horrorizada, o que é pior ainda, achando aquilo uma pouca-vergonha. 
        Semanas atrás, a informação mais lida em um grande site de notícias dizia que uma espanhola que estava no Big Brother Brasil tomava banho sem roupa, sem se importar com as câmeras. Achamos normal passar as noites acompanhando a vida de um grupo de desconhecidos, mas nos chocamos quando alguém toma banho pelado? Como uma pessoa que passa no mínimo um mês tomando banho de biquíni pode ter as partes íntimas de fato limpas? E olha que ainda rola pegação debaixo do edredom. Essa falta de higiene me parece muito mais chocante do que um corpinho exposto.Se eu quiser fazer top less para me bronzear por igual terei que procurar uma praia de nudismo (e, provavelmente, ainda ser tachada de tarada se postar isso em alguma rede social). Mas desde que me entendo por gente em todo carnaval vejo os seios da Globeleza enquanto ela fica se saracuteando no intervalo dos meus desenhos animados. Aliás, ela passar glitter nos pelinhos pubianos não a torna “vestida”, certo?Outra situação: você está na praia com uma criança de dois anos. De repente passa um peladão correndo. Provavelmente você vai ficar horrorizado e sem saber para onde olhar. Já a criança continuará ali, brincando com a areia. Isso porque a nudez é natural e pura, assim como a criança e a areia. Bebês andam pelados e meninas não ligam de ficar sem blusa... até que alguém as convençam de que mulheres precisam cobrir os seios (mesmo aqueles que você ainda nem tem).             
        E assim vai indo o país da bunda de fora. Sempre com seu medo de pecar, sempre oscilando entre a pseudo libertinagem brasileira e a hipocrisia corporal. Sempre com seu conservadorismo que aparenta ser liberal. E enquanto isso nos privamos da delícia que é entrar na água (rio, piscina, mar) sem roupa, tomamos banhos em vestiários públicos vestidos, viramos o rosto quando vemos alguém se trocando e continuamos transando de luz apagada. Porque aqui pode tudo, mas ficar pelado é coisa de índio – e nós somos muito modernos.



sexta-feira, 16 de março de 2012

Sonhos dourados...

Eu acordo cedo, sem sono, disposta a encarar mais um dia de academia. Aí eu chego na sala e vejo ele ali, dormindo profundamente. E o meu edredom preferido enrolava todo o corpo (também meu preferido) dele. Apenas fios dourados e irritantemente lisos coloriam o travesseiro branco. Eu vou chamá-lo, vamos tomar café da manhã e mais um dia seguirá, porque ir à academia é um compromisso que assumi. Mas algo como um imã me puxa para o colchão, e antes que eu pudesse resistir ele acorda, me cobre e sem nem mesmo abrir os olhos, me aninha. Tanto calor, tanto carinho, tanto conforto. E aí eu lembro que na noite anterior ele chegou completamente molhado, porque nem mesmo a chuva absurda que caia o fez desistir de atravessar a cidade para me ver. Suas roupas penduradas no banheiro me fazem pensar que aquele corpo quente teria que entrar nelas... e não estava calor. Ao tentar sair daquele colchão que já tem a nossa forma, além de frio, eu sinto que compromisso algum me faria abrir mão do “quentinho bom” e do abraço que afasta todos os pesadelos que me perseguem. Eu me aconchego um pouco mais, dou um leve suspiro e o sono vem, como se nada fosse mais certo que isso. E antes que meus olhos fechassem, mais uma vez eu me encanto por ele e pela paz que ele me traz...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Homem bacana não quer "lá em casa"

Uma pergunta que constantemente martela em minha cabeça é: “O que leva um homem a mexer com uma mulher desconhecida na rua?” Apesar de pensar nisso com frequência, ainda não encontrei uma resposta. Após alguns anos passando por esse infortúnio e conversando com outras mulheres (todas são vítimas disso, não importando idade, estilo ou religião), eu cheguei a duas conclusões: 1- não há mulher que goste de passar na rua e ouvir um “gostosa!” 2- homem bonito e/ou gente boa não mexe com mulher na rua (o que, talvez, explique bastante sobre a conclusão número um). Ok, há doido pra tudo e já ouvi mulheres dizendo que se em um dia ninguém mexe, elas acham que estão feias. Isso porque TODO DIA alguém fala alguma coisa! E essas atitudes, para mim, são mais um reflexo do quanto mulher brasileira é vista como produto. E é por isso que tanto homem se acha no direito de falar o que lhe dá telha.
      As brasileiras são consideradas as mais bonitas e as mais sensuais. Obrigada, a nação agradece. Mas então, por causa de um rótulo que criaram, precisamos aguentar esse assédio? Temos que sair com roupas “decentes”, não importando o calor que esteja, por que se andarmos com roupas curtas é porque queremos provocar? Somos obrigadas a permanecer em estado de alerta o tempo todo, para evitar que algum marmanjo esbarre propositalmente em nós, na rua? Devemos fingir constantemente que não estamos ouvindo o monte de idiotice que é dita? Será que homens desse tipo têm mãe, namorada ou irmã? Desconfio que não.
      Claro que toda mulher tem sua vaidade, gosta de receber elogios e de ser desejada. Mas pelo namorado, pelo marido, pelo cara que ela ta afim... não pelo bobão que ela nem conhece, mas encontrou na rua. Será mesmo que eles pensam que existe alguma possibilidade de dizerem “gostosa” e ouvirem “ai, você achou? Sem roupa é mais ainda”? Ou será mesmo que eles acham que vamos pensar: “Nossa, ele me acha gostosa e teve coragem de me dizer. Que rapaz de iniciativa”? Eu realmente duvido muito de todas essas hipóteses. Ainda porque, o cara que soltou um “ô lá em casa” para você de manhã, provavelmente já fez a mesma coisa, ao longo do dia, com pelo menos mais cinco. Além disso, uma mulher minimamente interessante é muito mais do que o cabelo sedoso ou a bunda durinha. E soltando essas pérolas mundão a fora, um cara só vai conseguir demonstrar que não é capaz de perceber nada disso. E, consequentemente, que não é digno de merecer tudo isso.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Mate a relação, salve o carinho...




Todo mundo já passou ou conheceu alguém que passou por uma relação eterna. E não estou falando de amar até ficar velhinho, mas sim de ter um casamento, namoro, peguete que não dá certo, mas que não termina nunca, ficando mais infinito que partida de Banco Imobiliário. A gente (tanto homem quanto mulher) insiste em achar que é só uma fase, que “vamos conseguir salvar a relação” e que “tudo vai ficar bem”. Desculpa, mas não vai. Se depois de muito pensar, você chegou à conclusão de que está insustentável, é porque está. Tentar contornar a situação só vai fazer tudo afundar de vez. É claro que quando envolve sentimento é muito mais difícil, mas acredite: vai doer menos se você desistir. Além disso, vai ser mais saudável para ambas as partes.
           Para mim, terminar com alguém que gosto mas que, por um motivo ou por outro não dá certo, é sempre triste por três motivos. 1- Sentirei saudades. 2- Me dói pensar que em breve a pessoa terá outro “amor”. 3- Era algo que eu queria que tivesse durado e acabou, me sinto frustrada. Então vamos lá: 1- Saudades você vai sentir de qualquer forma. Sendo assim, é melhor terminar logo, numa boa, do que empurrar até que vocês se odeiem e não possam nem ser amigos. “Matar” um relacionamento é triste. Matar sentimentos de carinho é pior ainda. 2- Sim, ele (a) terá outro alguém. Mas você também terá, então não será o fim do mundo. 3- Sim, é frustrante, mas não pense que não deu certo. Deu certo sim, pelo tempo que era para dar. Assim como o seu ensino médio deu certo, mas acabou.
           A longo prazo, depois que a poeira já baixou e você está em outra, é muito triste lembrar de alguém do passado e perceber que existe muita mágoa, muitas cicatrizes e muitos traumas. Eu confesso que nunca fui forte o suficiente para por um ponto final logo de cara (e por isso tenho tanta certeza de que não dá certo), mas me ensinaram que às vezes é preciso ser forte e racional. Depois de chorar, sofrer e espernear, eu entendi que “ser frio o suficiente” para não insistir em um “relacionamento errado” é aquecer um carinho bonito de sentir, que muitas vezes nem é presente, nem se fala com frequência, mas vale um sorriso em meio a um samba, um abraço amigo e a sensação de que dois corações estão em paz.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Cadê o Dia do Homem?




Dia Internacional da Mulher. Acho muito bacana ter um dia especial, assim como amo meu aniversário, planejo viagem romântica para o Dia dos Namorados e criei com minha mana o Dia das Irmãs. Mas todo ano me pergunto: cadê o Dia do Homem? Li que é 15/11. Também li que é 15/07. Um amigo  questionou essa “desigualdade” no Facebook e recebeu respostas como “Homem ainda não fez por merecer um dia”. Então somos melhores?
       Para mim, as pessoas são iguais. Pessoas são feitas de alma, não de corpos. Não queimamos sutiã por igualdade? E o que é ser uma mulher moderna? Cuidar dos filhos e manter a casa um brinco como nossas avós faziam, trabalhar como os avôs faziam, fazer academia e ser gostosa como uma Panicat, ser divertida porque ter TPM é coisa de mulherzinha e seduzir quantos caras quiser por noite porque isso é coisa de mulher bem resolvida – mas não transe no primeiro encontro, porque isso é coisa de vagabunda. E, segundo li esses dias em um post com imagem, no Facebook, se for transar “de quatro”, empine a bunda, porque deixar reto não é a forma certa de executar essa posição.
       E ser homem? Não chore, seja gentil, pague a conta (ou não, porque ela pode te achar machista), mande flores, goste de futebol (mas não troque um dia passeando com sua amada por uma tarde de pelada com os brothers, ou pode ser tachado de ogro), tire a sombrancelha para ser metrossexual, porque é moda, mas não assuma que tira, para seus amigos não te chamarem de “viadinho”, beba cerveja e não bebidas “doces de menina” (mas não crie barriga).
       Nãaao! Parem as máquinas! Está tudo errado! Posso ser mulher e querer que a casa limpa se exploda, posso achar que ser dona-de-casa e só o marido trabalhar é o melhor para nós e posso admirar minha amiga que sabe arrotar mais alto que todos nossos amigos. Homem pode chorar porque está se sentindo sozinho, pode preferir o futebol, pode deitar no peito da namorada depois do sexo e pode até ter medo de matar barata.
       Por que homem não tem dia? Por que Dia da Consciência Negra é feriado e Dia do Índio só é comemorado no Ensino Fundamental I (antigo primário)? Por que camiseta “100% negro” é orgulho negro e “100% branco” provavelmente seria linchada?
       A atriz Angelina Jolie uma vez disse, quando questionada sobre sua bissexualidade: “Eu não me apaixono por um homem ou por uma mulher. Eu me apaixono por pessoas”.  E é isso. Então deixo meus sinceros parabéns a todas as mulheres mais macho que muito homem, a todos os homens mais fofos que muita mulher. E mais do que parabéns, desejo de coração que o feminismo também acabe.

Gostar de sexo com mulher não é gostar de mulher

Estava eu no auge da tpm, quase chorando porque senti dó de comer uma batata smile (ela ali, sorrindo para mim), morrendo de cólica e com vontade de matar meu amigo que não parava de fazer piadinhas. Aí falei que cansei de ser mulher. E ele solta: "mas a tpm faz parte do charme feminino..." Tudo que mais desejei era estar do lado dele, dar um chutão no meio das pernas e dizer: "essa dor faz parte do charme masculino. ¬¬" Mas antes que eu soltasse minha fúria típica da tpm ele explicou: "Vocês podem ficar chatas e reclamonas na tpm, pq a gente nunca vai entender o que vcs passam...e vcs vão ter cólicas, e vão ficar choronas, fazendo a gente achar que são frágeis e precisam de cuidado." Aí mais tarde li o blog da mãe de uma amiga que fala que "gostar de sexo com mulher é uma coisa, gostar de mulher é outra". Faz todo sentido. Homem que realmente gosta de mulher não gosta só do sexo feminino em si (porque umas curvas para pegar até boneca inflável tem,)mas curte a tpm (ou pelo menos entende), tem paciência para esperar ela se arrumar, para depois ela vir toda cheirosinha. Entende que ela pode sim ser independente, livre, mas mesmo assim vai amar flor, ganhar presente fofo e vai se encher de doce em algum momento...É muito bom ser mulher, porque é absurdamente lindo ter cintura e seio, mas gosto principalmente pelo "kit completo", com todas as frescurices que tenho direito: gostar de colo, de abraço masculino bem apertado que parece até que vai quebrar a costela, de me encher de creme, de chorar na tpm, de ter medo de coisa boba, de ter sexto sentido. Eu definitivamente amo muito ser mulher e admiro muito os homens que além de amar seios e cinturas, amam as mulheres.(texto originalmente feito em 2010 e publicado no antigo Pensamentos de Ovelha).

terça-feira, 6 de março de 2012

Bonito mesmo é quem sorri com os olhos



Sete tatuagens, cicatrizes a perder de conta, uma mancha branca na bunda, um pé maior que o outro, alargadores que nunca formam par. É disso que eu gosto: do diferente, do que não combina. Falando nisso, dizem que batom rosa não combina com pele morena. Pois o meu rosa opaco é meu preferido e, segundo meu namorado, me deixa com boca de beijar. Hoje uma moça da academia estava me contando que teve bulimia na adolescência, porque sua amiga de infância a chamou de gorda, no meio da quadra da escola. Minha mãe passou a vida tomando remédio para emagrecer. Nunca foi magérrima. Minha melhor amiga, das pernas grossas, corria pela sala quando criança, para tentar ficar com as pernas finas que nem as das coleguinhas.
      O bonito não é só o visual. E não to falando só daquele papo clichê de beleza interior. To falando da beleza do toque. Cintura bonita de pegar é a que tem “lombinho”. Cabelo lindo de tocar é o que pode ser descabelado. A beleza do paladar. Corpo bonito é aquele que sabe aproveitar sem culpa uma cerveja numa tarde calorenta. Tem sorriso bonito quem sorri com os olhos. Bonito é o negro, com cor que parece chocolate e dá vontade de morder. O branco, que dá vontade de arranhar bem fraquinho, pra ver ficar levemente vermelho. Bonitos são os olhos hipnotizantes dos orientais e dos índios, as sardas dos ruivos. Gordura feia é a que faz mal pra saúde. Magreza feia é a que vira anorexia. Cabelo liso feio é o que queima a testa para ser feito. Cabelo crespo feio é o que vive preso e escondido.
     Como diz uma música do Criolo, “eu tenho orgulho da minha cor, do meu cabelo e do meu nariz. Sou assim e sou feliz.” E espero que você também!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Eu aprendi com meu cão...


Hoje eu sonhei com um dos meus cachorros preferidos. Sim, eu tive muitos, mas alguns marcaram muito. Pit, também conhecido como Pit-tusco (nunca pensei em como escrever isso) ou simplesmente Tusco. Ele nasceu no terreno de um vizinho, filho de uma cachorrinha um tanto mal cuidada. Todos passavam fome, até que um belo dia o Tusco decidiu se mudar para meu quintal. Ele tinha menos de dois meses, mas já sabia o que queria da vida: queria viver! E assim foi: minha família e eu nos apegamos àquela coisinha creme do nariz preto, que ficava mais forte a cada dia, enquanto todos seus irmãos morriam. Sobrou apenas ele. O Pit era quieto, nunca latia, não gostava de ser pego no colo (mas eu, no alto dos meus oito anos, fazia isso todos os dias e ele apenas chorava, desesperado, porque jamais teve coragem de me morder), não gostava de ração, fazia sucesso com as cadelas do bairro e não gostava de mendigos. Ele tinha outras duas características marcantes: não gostava de criança e sempre estava na rua (os portões ficavam abertos para ele, mas, mesmo se não, ele sempre daria um jeito de fugir, como a vez que escapou pelo telhado do vizinho), voltando para casa quando queria.
Sobre essas duas características que acordei pensando. Primeiro, ele odiava crianças. E eu era uma. Mas o Tusco me amava. Ele me amava por ter salvado sua vida, pelas tardes que passávamos juntos, pelas refeições que repartíamos, por eu deixar ele me acompanhar pelo bairro, onde quer que eu fosse. Ele me amava pelo que eu era por dentro, e não pela cara de criança que tinha por fora. Ele me amava com toda sua força e por isso suportava minha falta de idade. Por mim ele suportava tudo... e por mim ele daria a vida, como quase fez no dia em que se jogou dentro da boca de um doberman que apareceu do nada e ia me morder pelas costas, sem eu ver. E hoje, olhando para trás, eu vejo o quanto o Tusco, com seus olhinhos pretos redondos, me ensinava o que é “simplesmente amar”.
Outro fato que só percebi hoje é que o Pit me ensinou a diferença entre ser livre e ser ausente. Ele saia todos os dias e era, inclusive, fichado na carrocinha. Mas ele esteve sempre que eu precisei dele. Ele sempre voltou. E a lição mais dura que ele me ensinou foi a final: a diferença entre dar liberdade e abandonar. Em determinado momento os cães tiveram que ficar na chácara do meu pai, que contava apenas com um caseiro que dava comida para os bichos. E nos preocupamos com a segurança de todos eles, menos com a do Pitt, já que ele era esperto, safo, e estava acostumado a andar sozinho. Mas hoje entendi que ali ele não estava livre, ele estava sozinho, abandonado. E então, enquanto todos os cães viviam felizes, ele saiu... e nunca mais voltou.