Princesa
dos olhos d’água, mais verdes e preciosos que a mais pura esmeralda. Cabelos de
vento, inquietos e estranhamente macios como sua alma. De uma doçura ácida,
como os chicletes que comíamos na infância, tentando não fazer careta. Equilibradamente
assimétrica, como duas orelhas que fogem dos padrões, com certo ar de imperfeição
perfeita. Mãos que nasceram como de rãs e cresceram como de pianistas, mas na
verdade são de artista. Pés longos, feitos sob medida para levá-la onde seus
sonhos de aquariana querem chegar. Sorriso aberto, espelho da alegria infinita
que é abrigada em um grande coração, que bate por trás de seus seios pequenos, com
mais força que a água de seus olhos. Hoje esse corpo moreno e imponente como
duas grossas sobrancelhas pretas, que é feito de amor, de desejos, de liberdade,
de força, de distração, de imagens e de música, completa mais um ano dançando
nessa doce melodia: a vida!
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Se ficar o bicho pega...
Voltaram às aulas,
voltei à minha longa saga para chegar de Pinheiros, em São Paulo, a
Barão Geraldo, em Campinas. Depois de uma hora e meia de viagem em
um ar-condicionado que me fazia pensar que estava indo para o Alasca,
tentei entrar na fila do ônibus para Barão. Digo tentei porque
havia uma mulher caída no chão e, claro, todas as pessoas estavam
ao redor dela, mesmo que os funcionários da rodoviária já
estivessem cuidando do caso. Porque, claro, não basta você passar
mal, é preciso que todos façam um roda em volta, te impedindo de
respirar tranquilamente. Depois que perdi o ônibus porque não
consegui chegar até ele, por causa da muvuca no local, e ouvi do
funcionário que foi por culpa minha (eu que deveria estar mais
atenta e não perder o ônibus), a moça foi removida, outro ônibus
chegou e eu consegui entrar. Após descobrir que a passagem aumentou
para três reais (era R$ 2,85), eu dei meu rico dinheirinho pro
cobrador, que me devolveu o troco e falou: “pode ficar aqui na
frente”. Após algum tempo de: “senta aí/ por que não posso
passar?”, eu entendi o óbvio: “se eu não passar na catraca, eu
não existo como passageira, logo meus trocadinhos podem ir parar nos
bolsos do cobrador e do motorista”. Fiquei indignada e mais
revoltada ainda quando vi que o cobrador fazia isso, de forma
intimidadora, com todas as pessoas que pagavam em dinheiro.
Então comecei um
conflito interno para saber se denunciava ou não. Cheguei à uma
conclusão: falar é fazer o homem perder o emprego e dar meu
dinheiro para o ladrão chamado governo. Não contar é dar meu
dinheiro para o furto do pequeno ladrão que chamamos de cobrador. Jà
dizia minha vó: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
Perceber que estava nessa situação fez eu me sentir muito lesada e
impotente diante da situação que me meu chefe define como
“comportamento escravista”. Eu concordo muito com o que ele diz,
porque o Brasil ainda é um país que se comporta como colônia, que
age como se sempre fosse possível dar um jeitinho – e enche a boca
para chamar a pequena corrupção, tão suja quanto a dos políticos,
de jeitinho brasileiro. E vivemos de pequenos furtos, de não
devolver o troco que vem a mais por engano do caixa, de não devolver
livros que pegamos emprestados de bibliotecas e de tentar passar
cédula falsa para frente. Tudo isso porque o mais difícil não é
tirar um povo da situação de colônia... e sim tirar a colônia do
povo.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Entre o céu e o inferno
There are more things in heaven and earth than are dreamt of in your philosophy – já dizia Shakespeare. É mais
do que eu posso ver, mas eu quase posso sentir. Apesar de ter sido batizada, catequizada
e crismada, criada sob preceitos católicos, talvez a cultura africana que corre
em minhas veias nunca morreu. Não é tão simples quanto céu e inferno, quanto
pecado e confissão. Você pode obter o que quiser, não existe bem e mal. Segundo
algumas crenças de origem africana (creio eu que essa é a origem), os espíritos
estão ali, neutros, prontos para te ouvir e te atender. A pergunta é uma só:
você sabe que isso voltará em algum momento, demore o tempo que for, para você
mesmo? Se a resposta for sim... que sua vontade seja feita. Religiosidades à
parte, eu falo em energia, em ondas que vibram na mesma frequência, o clichê “você
atrai o que transmite”. Não existe amor construído sobre mágoa, nem alegria que
se sustente em lágrimas desesperadas e tampouco vida sobre morte. O contrário também
vale. Parece-me simples perceber o erro, que grita o mais forte que seus pulmões
cinzas são capazes de suportar, ecoando sofrimentos que dilaceram corações,
talvez mais do que possam aguentar. Não é apenas sua vida que será impactada: é
como um redemoinho que sugará todos ao seu redor para o mesmo buraco. Não
adianta tentar nadar para fora, existe apenas uma forma de escapar: busque o
bem, pratique o amor, se arrependa verdadeiramente do mal e livre-se da culpa.
E hoje eu percebo: não é que estamos afastados ou ausentes, e sim que vibramos
em diferentes frequências. Que o meu Deus (digo meu porque para mim não é um
velho barbudo, nem um jovem que parece Tiradentes, mas uma grande bola de luz e
energia boa, como um Sol, que esquenta, conforta e ilumina, alguém que não
julga nem castiga, mas acolhe e abençoa) esteja com vocês.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
A morte
A morte chegou pela primeira vez em uma manhã, pouco depois de um determinado ano ter começado. Como de costume, ela apareceu de repente e pela manhã. Dizem que o escuro traz o incerto e o medo. Eu temo o nascer do Sol. E a morte, tão silenciosa e sorrateira levou minha melhor amiga. Aquela que passava todas as tardes comigo e que tinha um coração melhor do que o de qualquer humano. Quem lambia minhas lágrimas e me entendia. Meus pais tinham ali, uma criança desolada e seu primeiro contato com a morte. Eles tentaram dizer que agora minha cachorrinha, minha parceira, ia morar com Papai do Céu. Isso só serviu para me fazer pensar que era muito feio Papai do Céu me fazer sofrer desse jeito. Como sempre é, a dor continuou... mas a vida também. Um pouco depois eu fui em um velório (dessa vez de uma pessoa). Por que as crianças precisam ir a velórios? Eu senti muito tédio e pensei que se era pras pessoas ficarem rindo, elas deveriam ficar em casa. Havia gente chorando ali, poxa. Eu não fiquei triste pelo morto, mas chorei pelos familiares. Pensei que os velórios deveriam ser, na verdade, um encontro onde as pessoas apoiam quem ficou, sem o defunto, tentando consolá-los.Desde esse dia, uma pergunta martela na minha cabeça: por que damos flores para quem morre? Eu preferia dar em vida, ganhando um sorriso em troca. Agora não precisa mais, ele não pode mais sorrir. Mais algumas mortes humanas e "animais" vieram e eu sofri em todas. Nas humanas, por compaixão, nas "animais", por mim, porque sabia que fariam falta na minha vida. Até que a morte, mais uma vez, esperou eu dormir, para poder trabalhar. Nossa, como eu odiei a morte. Ela não podia ser tão falsa com alguém. Nesse velório, o mais difícil de todos, eu entendi que a morte não é falsa, mas as pessoas sim. Eu recusei abraços, eu chorei sozinha e dormi segurando a mão de pessoas queridas (sempre bom garantir que ninguém sumirá enquanto você descansa). Sete anos se passaram, vidas e mortes seguiram, e eu entendi que a morte não é fria, nem falsa, nem traiçoeira e que Papai do Céu não leva ninguém pra morar com ele. A morte é simplesmente a linha final de um livro bom. E a morte, que sempre esteve tão perto de mim, com seu ar misterioso e sua face delicada, para mim tem cheiro de flor e é uma amiga que me lembra sempre que eu nunca vou poder ler o livro de novo, mesmo que goste muito da história.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
2012 vem e o Pensamentos de ovelha volta
Leveza. Essa é a palavra que escolheria para definir esse
começo de ano. Simples como cervejas bebidas no degrau da calçada, divertido
como tentar dançar salsa, romântico como passear de mãos dadas pela Paulista. Impossível
não falar dele. Inviável não pensar nele. O dos olhos doces, o do sorriso de
menino, o do cabelo liso, o das mãos pequenas que foram como esculpidas para
meu corpo pequeno. O dono do meu último pensamento da noite, a quem pertence
meus sonhos mais puros, meus desejos mais ardentes e as minhas vontades mais
femininas. O homem do coração de menino, meu ninho. Meu ano começa com amor.
Começo de ano, fortalecimento que só se conquista em anos. Fraternidade,
confiança, parceria. E cada vez mais eu me vejo nela. Impossível não amar essa
mulher. Arquiteta, menina, a dona da minha admiração. Amiga, irmã, me traz paz,
segurança. Sorriso aberto, olhos que brilham mais que vidro de esmalte que pode
ser diamante. Ela é leve, ela é livre, ela é amor, ela é força, ela sou eu. Ela
é a minha maior certeza. Meu ano começa com família.
Amizade. Meus carnavais, meus anos-novos, minhas noites e
meus segredos. Desafio às leis matemáticas e físicas. Três podem ser apenas um.
Confiança, certeza de ter com quem contar. Quem me ensina a ser melhor, quem me
faz acreditar no eterno e faz do meu presente sonho, liberdade, carinho e
diversão. Os donos do meu riso, os que me têm nas mãos. Meu ano começa com
amizade.
Dois mil e doze engatinha. Eu o admiro como uma mãe
encantada vendo seu filho dar os primeiros passos: Colômbia, palavras, Brasil,
textos, música, natureza, cerveja, casa, trabalho, açaí, colação, namoro,
viagem... e olha, meu pequeno bebê já sabe correr. Mas ele é apenas uma criança
que para, olha pra trás e sorri, como quem diz: corre também, vem me pegar.
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