Voltaram às aulas,
voltei à minha longa saga para chegar de Pinheiros, em São Paulo, a
Barão Geraldo, em Campinas. Depois de uma hora e meia de viagem em
um ar-condicionado que me fazia pensar que estava indo para o Alasca,
tentei entrar na fila do ônibus para Barão. Digo tentei porque
havia uma mulher caída no chão e, claro, todas as pessoas estavam
ao redor dela, mesmo que os funcionários da rodoviária já
estivessem cuidando do caso. Porque, claro, não basta você passar
mal, é preciso que todos façam um roda em volta, te impedindo de
respirar tranquilamente. Depois que perdi o ônibus porque não
consegui chegar até ele, por causa da muvuca no local, e ouvi do
funcionário que foi por culpa minha (eu que deveria estar mais
atenta e não perder o ônibus), a moça foi removida, outro ônibus
chegou e eu consegui entrar. Após descobrir que a passagem aumentou
para três reais (era R$ 2,85), eu dei meu rico dinheirinho pro
cobrador, que me devolveu o troco e falou: “pode ficar aqui na
frente”. Após algum tempo de: “senta aí/ por que não posso
passar?”, eu entendi o óbvio: “se eu não passar na catraca, eu
não existo como passageira, logo meus trocadinhos podem ir parar nos
bolsos do cobrador e do motorista”. Fiquei indignada e mais
revoltada ainda quando vi que o cobrador fazia isso, de forma
intimidadora, com todas as pessoas que pagavam em dinheiro.
Então comecei um
conflito interno para saber se denunciava ou não. Cheguei à uma
conclusão: falar é fazer o homem perder o emprego e dar meu
dinheiro para o ladrão chamado governo. Não contar é dar meu
dinheiro para o furto do pequeno ladrão que chamamos de cobrador. Jà
dizia minha vó: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
Perceber que estava nessa situação fez eu me sentir muito lesada e
impotente diante da situação que me meu chefe define como
“comportamento escravista”. Eu concordo muito com o que ele diz,
porque o Brasil ainda é um país que se comporta como colônia, que
age como se sempre fosse possível dar um jeitinho – e enche a boca
para chamar a pequena corrupção, tão suja quanto a dos políticos,
de jeitinho brasileiro. E vivemos de pequenos furtos, de não
devolver o troco que vem a mais por engano do caixa, de não devolver
livros que pegamos emprestados de bibliotecas e de tentar passar
cédula falsa para frente. Tudo isso porque o mais difícil não é
tirar um povo da situação de colônia... e sim tirar a colônia do
povo.
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