quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A morte

A morte chegou pela primeira vez em uma manhã, pouco depois de um determinado ano ter começado. Como de costume, ela apareceu de repente e pela manhã. Dizem que o escuro traz o incerto e o medo. Eu temo o nascer do Sol. E a morte, tão silenciosa e sorrateira levou minha melhor amiga. Aquela que passava todas as tardes comigo e que tinha um coração melhor do que o de qualquer humano. Quem lambia minhas lágrimas e me entendia. Meus pais tinham ali, uma criança desolada e seu primeiro contato com a morte. Eles tentaram dizer que agora minha cachorrinha, minha parceira, ia morar com Papai do Céu. Isso só serviu para me fazer pensar que era muito feio Papai do Céu me fazer sofrer desse jeito. Como sempre é, a dor continuou... mas a vida também. Um pouco depois eu fui em um velório (dessa vez de uma pessoa). Por que as crianças precisam ir a velórios? Eu senti muito tédio e pensei que se era pras pessoas ficarem rindo, elas deveriam ficar em casa. Havia gente chorando ali, poxa. Eu não fiquei triste pelo morto, mas chorei pelos familiares. Pensei que os velórios deveriam ser, na verdade, um encontro onde as pessoas apoiam quem ficou, sem o defunto, tentando consolá-los.Desde esse dia, uma pergunta martela na minha cabeça: por que damos flores para quem morre? Eu preferia dar em vida, ganhando um sorriso em troca. Agora não precisa mais, ele não pode mais sorrir. Mais algumas mortes humanas e "animais" vieram e eu sofri em todas. Nas humanas, por compaixão, nas "animais", por mim, porque sabia que fariam falta na minha vida. Até que a morte, mais uma vez, esperou eu dormir, para poder trabalhar. Nossa, como eu odiei a morte. Ela não podia ser tão falsa com alguém. Nesse velório, o mais difícil de todos, eu entendi que a morte não é falsa, mas as pessoas sim. Eu recusei abraços, eu chorei sozinha e dormi segurando a mão de pessoas queridas (sempre bom garantir que ninguém sumirá enquanto você descansa). Sete anos se passaram, vidas e mortes seguiram, e eu entendi que a morte não é fria, nem falsa, nem traiçoeira e que Papai do Céu não leva ninguém pra morar com ele. A morte é simplesmente a linha final de um livro bom. E a morte, que sempre esteve tão perto de mim, com seu ar misterioso e sua face delicada, para mim tem cheiro de flor e é uma amiga que me lembra sempre que eu nunca vou poder ler o livro de novo, mesmo que goste muito da história.

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